25.2.06
O Difícil Diálogo de Civilizações
Esperançosamente, tenho deixado neste fórum alguns contributos para uma tentativa de compreensão dos problemas das relações entre Comunidades; problemas, digamo-lo sem rodeios, vividos já hoje, aqui entre nós, na nossa outrora doce e civilizada Europa, cada vez mais, no entanto, a caminho de deixar de o ser, sobretudo se, nós outros, cidadãos europeus do século XXI, continuarmos apáticos, inibidos ou estonteados com os fenómenos que presenciamos, sem nos esforçarmos por os compreender e, em consequência, sem capacidade para posteriormente os tentarmos resolver.
A questão é colocada assim mesmo, porque podem muito bem estes problemas não ter solução consensual, ou apenas solução, sem mais, tout court.
Qualquer observador consciente admitirá que não tenham solução fácil, ainda que todos nos empenhássemos nela, muito menos quando tanta gente deles se alheia.
Só por mero acaso, alguém consegue resolver um problema que previamente não compreendeu. Antes ainda da tentativa de resolução do problema, é preciso que este tenha sido correctamente identificado e adequadamente formulado.
Se nem sequer se reconhece o fenómeno que se tem diante dos olhos como um problema, nunca ele será correctamente identificado, não se formulará o seu real enquadramento e naturalmente jamais ele será resolvido.
Isto na ordem natural das coisas, não contando com a intervenção do Acaso ou da Providência, sempre admissível, obviamente, mas com a qual não é aconselhável contar, na procura de soluções para os nossos problemas quotidianos.
Convém além do mais ter sempre presente que, em qualquer circunstância, não é por se ignorar o mal, que ele desaparece ou se transforma em qualquer coisa de bom.
A isto julgo poder chamar-se o exercício do velho bom senso, aquela espécie de bem ou dom que René Descartes reputava ser o mais perfeitamente distribuído do mundo, aquele que lhe parecia ter sido o bem mais equitativamente dispensado pelo Criador (Descartes era simultaneamente um pensador, filósofo, matemático, sábio e crente) ao Homem, visto que nunca ele havia conhecido alguém que achasse tê-lo recebido em quantidade insuficiente, que desejasse possuí-lo em maior abundância.
De onde, concluia Descartes, que tal situação resultava do facto de ter havido uma inequívoca distribuição igualitária desse utilíssimo bem, derradeira prova da infinita generosidade e equanimidade do Criador.
Bem nos poderíamos inspirar nesta última referência, para procurarmos uma forma de convivência mais amigável, nas nossas sociedades contemporâneas do Ocidente, de há uns anos para cá, demasiado obcecadas com a maximização dos lucros das Empresas, ao mesmo tempo que desatentas a factores que contribuem gravemente para a sua desagregação global.
De nada servirá a grande capacidade produtiva de bens e serviços da Economia ocidental, quando somente uma pequena parcela da Comunidade dela puder usufruir, ainda pior se com este facto, se observar, em concomitância, um crescente desinteresse por ideais cívicos e espirituais, que estiveram na base dessa actual superioridade económica.
Deveríamos pensar mais nisto, em lugar de julgarmos permanentemente assegurada esta nossa actual superioridade, sobretudo quando, apesar dela, se gera uma tão difusa frustração na maioria da população pela enorme desigualdade na distribuição da riqueza comummente criada.
Neste habitat de tão gritantes desníveis sociais, torna-se difícil fazer vingar sentimentos de solidariedade e sem estes não há verdadeiras Comunidades, Países ou Nações, sobretudo quando delas se extirpou a base espiritual a partir da qual se alimentava a comunhão de ideais.
Sem aquela base espiritual e sem ideais compartilhados como se sustentam as actuais Comunidades ocidentais ?
Será o presente relativo conforto material vivido, em particular, nas sociedades euro-americanas, assente na obsessão consumista, habilmente conduzida pela panóplia de recursos mediáticos postos ao serviço das grandes Empresas, gravemente esquecidas da sua função social, suporte bastante para garantir, no futuro, a actual superioridade económica e militar do Ocidente herdeiro da civilização de matriz greco-romana-judaico-cristã ?
No passado, tivemos exemplos de Civilizações florescentes que pereceram ante a investida de outras que eram tecnica e culturalmente menos dotadas, vulgarmente até apelidadas de bárbaras.
Teremos aprendido alguma coisa com esses exemplos ?
AV_Lisboa, 25 de Fevereiro de 2006
A questão é colocada assim mesmo, porque podem muito bem estes problemas não ter solução consensual, ou apenas solução, sem mais, tout court.
Qualquer observador consciente admitirá que não tenham solução fácil, ainda que todos nos empenhássemos nela, muito menos quando tanta gente deles se alheia.
Só por mero acaso, alguém consegue resolver um problema que previamente não compreendeu. Antes ainda da tentativa de resolução do problema, é preciso que este tenha sido correctamente identificado e adequadamente formulado.
Se nem sequer se reconhece o fenómeno que se tem diante dos olhos como um problema, nunca ele será correctamente identificado, não se formulará o seu real enquadramento e naturalmente jamais ele será resolvido.
Isto na ordem natural das coisas, não contando com a intervenção do Acaso ou da Providência, sempre admissível, obviamente, mas com a qual não é aconselhável contar, na procura de soluções para os nossos problemas quotidianos.
Convém além do mais ter sempre presente que, em qualquer circunstância, não é por se ignorar o mal, que ele desaparece ou se transforma em qualquer coisa de bom.
A isto julgo poder chamar-se o exercício do velho bom senso, aquela espécie de bem ou dom que René Descartes reputava ser o mais perfeitamente distribuído do mundo, aquele que lhe parecia ter sido o bem mais equitativamente dispensado pelo Criador (Descartes era simultaneamente um pensador, filósofo, matemático, sábio e crente) ao Homem, visto que nunca ele havia conhecido alguém que achasse tê-lo recebido em quantidade insuficiente, que desejasse possuí-lo em maior abundância.
De onde, concluia Descartes, que tal situação resultava do facto de ter havido uma inequívoca distribuição igualitária desse utilíssimo bem, derradeira prova da infinita generosidade e equanimidade do Criador.
Bem nos poderíamos inspirar nesta última referência, para procurarmos uma forma de convivência mais amigável, nas nossas sociedades contemporâneas do Ocidente, de há uns anos para cá, demasiado obcecadas com a maximização dos lucros das Empresas, ao mesmo tempo que desatentas a factores que contribuem gravemente para a sua desagregação global.
De nada servirá a grande capacidade produtiva de bens e serviços da Economia ocidental, quando somente uma pequena parcela da Comunidade dela puder usufruir, ainda pior se com este facto, se observar, em concomitância, um crescente desinteresse por ideais cívicos e espirituais, que estiveram na base dessa actual superioridade económica.
Deveríamos pensar mais nisto, em lugar de julgarmos permanentemente assegurada esta nossa actual superioridade, sobretudo quando, apesar dela, se gera uma tão difusa frustração na maioria da população pela enorme desigualdade na distribuição da riqueza comummente criada.
Neste habitat de tão gritantes desníveis sociais, torna-se difícil fazer vingar sentimentos de solidariedade e sem estes não há verdadeiras Comunidades, Países ou Nações, sobretudo quando delas se extirpou a base espiritual a partir da qual se alimentava a comunhão de ideais.
Sem aquela base espiritual e sem ideais compartilhados como se sustentam as actuais Comunidades ocidentais ?
Será o presente relativo conforto material vivido, em particular, nas sociedades euro-americanas, assente na obsessão consumista, habilmente conduzida pela panóplia de recursos mediáticos postos ao serviço das grandes Empresas, gravemente esquecidas da sua função social, suporte bastante para garantir, no futuro, a actual superioridade económica e militar do Ocidente herdeiro da civilização de matriz greco-romana-judaico-cristã ?
No passado, tivemos exemplos de Civilizações florescentes que pereceram ante a investida de outras que eram tecnica e culturalmente menos dotadas, vulgarmente até apelidadas de bárbaras.
Teremos aprendido alguma coisa com esses exemplos ?
AV_Lisboa, 25 de Fevereiro de 2006